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quinta-feira, setembro 28, 2006

Comportamentos militares – transcrição

Depois de 2 dias em que não tive contacto com o “ciberespaço”, tinha um mail do Celestino da Silva que, a propósito da “onda” do Barbosa sobre o artigo do Brandão Ferreira no Diabo, dizia: “Como, por acaso, ainda tinha o exemplar referido daquele semanário (e para poupar 30 Cents ao Barbosa), digitalizei e aqui lhe mando o referido artigo (transcrito e em anexo) para que dele possa fazer o que melhor entender.”
Assim, agradecendo a colaboração do Celestino que, para além de ter poupado o selo ao Barbosa, também me poupou o trabalho de digitalizar o artigo, aqui vai a transcrição:
    Comportamentos militares
         Brandão Ferreira, TcorPilAv (ref)
         “O Diabo”, 19 de Setembro de 2006
         FOI sempre difícil aos ramos das Forças Armadas (FA's), entenderem-se e conjugarem esforços ao longo dos tempos. Isto não é exclusivo dos portugueses mas de todos os exércitos do mundo. Tem a ver com a natureza das coisas e dos homens.
         Como o homem, apesar de tudo, é um ser que emprega a sua inteligência, por vezes, em seu benefício, as diferentes partes dos exércitos (sentido lato), foi aprendendo a coordenar acções à medida que os séculos iam passando. Diga-se em abono da verdade, que as dificuldades das campanhas e a própria sobrevivência, foram sendo o melhor argumento, para a complementaridade das acções no campo de batalha. Em tempo de Paz as coisas tendem logo a piorar.
         Depois da Segunda Guerra Mundial deixou de se fazer acções isoladas, isto é, a conjugação de todas as armas e serviços no Exercito passaram a actuar com a Força Aérea e, sempre que possível, com a Marinha. As operações militares, daí para cá, além de conjuntas passaram cada vez mais a combinadas, ou seja, com unidades de diferentes países amigos.
         Hoje em dia a evolução tecnológica, os altos padrões de gestão e o preço exorbitante dos meios, apuraram tudo isto a um expoente nunca visto.
         Sem embargo ainda há muito que fazer.
         Por exemplo, qualquer coisa que se queira implementar que envolva a Armada Portuguesa, o Exército e a Força Aérea tem, à partida, grandes hipóteses de ficar a marcar passo. E a existir um défice de confiança entre as partes.
         O Conselho de Chefes de Estado Maior não tem conseguido gerir adequadamente este «status quo», o que permite aos políticos asneirar abundantemente e desculparem-se com os flancos que lhe são franqueados.
         O comportamento típico resume-se numa frase: quando há um problema, o Exército logo se posta para mandar em tudo; a Armada nunca tem «maré» para colaborar em nada e a Força Aérea envia um major.
     «Guerras»…
         Expliquemo-nos:
         O Exército, dada a elevada massa critica (relativa), e à necessidade estrutural de arranjar lugares para promoções, entende «naturalmente» que devem mandar em (quase) tudo ou ter a proeminência. Além disso nem lhes passa pela cabeça que um «marmota» (marinheiro), mande neles e tem dificuldade em aceitar sentarem-se à mesa com esses seres esquisitos, alguns com idades para serem filhos deles, que respondem pelo nome de aviadores. Além disso aquele Estado-Maior do Exército tem um prolongamento rectangular de tal ordem, que tudo o que saia fora da lógica do «esquerdo direito» passa a ser um «complicómetro».
         Por sua vez a Marinha anda em concorrência com o Exército desde o tempo do D. Fuas Roupinho, arroga-se ser a Armada mais antiga do mundo e tem um espírito de corpo muito especial. Além disso, desde Guarda Marinha que conhecem os portos do mundo, através dos oceanos que os ligam, e não estão para dar confiança aos «terráqueos» cuja visão está limitada pela copa das árvores! Por outro lado a Marinha no mar (que não tem nada a ver com a Marinha em terra), não vê o Exército à sua volta e quando, nas raras vezes, que os transporta ou combóia, são hóspedes. Isso de infantarias e bizarrices de ordem unida, etc., fica para os Fuzileiros… A Força Aérea, a que chamam «aéreos», são tolerados quando o comando e controle dos meios lhes pertence, ou servem de aliança pontual contra o Exército.
         Finalmente as «Tropas do Ar» viveram durante décadas espartilhadas entre a Marinha e o Exército e só tiveram carta de alforria em 1952. Ganharam a sua maturidade e verdadeira prova de fogo durante a guerra do Ultramar, mas apesar de tudo a sua juventude e reduzido número faz com que o Exército e a Marinha os olhem não como um ramo mas como um «galho».
         O que eles querem no fundo é voar. E entretém-se nisso. Fazê-los descer à terra e pô-los a estudar outras coisas é uma violência. Por isso marcha um major, de preferência o mais moderno. Falta «pensamento estratégico» e desde que não lhes ataquem o essencial, até colaboram. Como se habituaram a ver o campo de batalha a três dimensões e a pensar rápido, isso provoca-lhes alguns preconceitos, sobretudo relativamente ao Exército. Às vezes enganam-se.
         Dadas assim as explicações, necessariamente sucintas, salta à vista que um dos principais problemas que os militares enfrentam é o desconhecimento mútuo das realidades próprias e alheias. Algum desse desconhecimento é militante.
         O segundo problema que exorbita o comportamento descrito é a falta de dinheiro – casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão.
         O terceiro problema é a existência de «jovens turcos» para quem é preciso fazer tábua rasa de tudo, certamente por julgarem que a História começa com eles.
         A quarta questão e a mais grave, é a falta de presciência em teimarem em não querer perceber que a solução para os problemas passa por darem-se as mãos e ajudarem-se a manter-se à tona de água. A alternativa – como está mais que provado –, é perderem todos.
     A «médica civil»…
         Desde o ex-ministro Fernando Nogueira que os políticos esfregam as mãos com este estado de coisas e aprenderam a dividir para reinar. E quando o CCEM leva muito tempo a apresentar uma proposta, logo nomeiam grupos de trabalho (GT), chefiados por quem entendem, para fazerem estudos à parte e responderem directamente ao inquilino mor do edifício sito na Avenida Ilha da Madeira. O exemplo mais acabado do que acabo de afirmar é o GT nomeado em DR para reorganizar os Serviços de Saúde Militares, constituído por representantes dos ramos e chefiados por uma médica… civil!
         Insiste-se nisto há décadas o que ultrapassa a minha capacidade de compreensão.
         Mas como costuma dizer o embaixador Cutileiro «as coisas são o que são».

Comentários:

Em setembro 28, 2006 10:59 da tarde, Blogger J.N.Barbosa escreveu...

Agradeço ao Celestino o ter-me poupado os 30 cêntimos...
Quanto ao conteudo, podem crer que é mesmo assim.Nos meus tempos de COMARCONT,durante anos a FA mandava às reuniões o major Fernandes, para qualquer tipo de assunto!

 
Em setembro 29, 2006 3:31 da tarde, Blogger FdaPonte escreveu...

Por acaso o Fernandes até era um tipo porreiro e cheio de paciência

 
Em setembro 29, 2006 4:05 da tarde, Blogger FdaPonte escreveu...

Esqueci-me de mandar um grande abraço ao Celestino, camarada que muito estimo e admiro.

 

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