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quinta-feira, novembro 17, 2005

O nascimento de uma nação

(Adaptação de um ensaio publicado na Time por um inglês residente em Espanha de sua graça Rod Usher)

Leonor, o nome dado à infanta recém nascida,enrola na lingua espanhola com um timbre real. Os pais estão encantados, mas a constituição espanhola preferia sem dúvida un hombre. É o que diz o documento aprovado três anos depois da morte de Franco ,há trinta anos.
Hoje a lei espanhola permite a mudança de sexo e algumas das regiões autónomas já a praticam à custa do sistema nacional de saúde,todavia a pequena Leonor não precisará do bisturi do cirurgião para ser rainha depois do pai. O governo socialista quer apagar o sexismo do artigo 57 (a aplicar depois de Filipe).Não haverá oposição e as sondagens mostram que a maioria concorda. Mas, o que aconteceria se um belo dia a futura rainha Leonor anunciasse que queria casar com uma mulher? O protocolo enlouquecia mas não haveria problema. Em Espanha isso também é hoje normal!
Mesmo para mim, nascido em democracia e residente aqui há quinze anos, é difícil digerir a velocidade das mudanças operadas em Espanha desde a morte de Franco. Quando pela primeira vez desembarquei aqui nos anos 60, a Guardia Civil de tricórnio e bigode metia cagaço. Hoje tratam os cidadãos por senhor e senhora e já admitem mulheres ao serviço... e qualquer sexo pode optar pela tal operação de que Leonor não precisa. Por exemplo, Alba Romero, de Jaén, é guarda civil como o pai e quatro irmãos. Nascida macho, tirou os orgãos genitais, a maçã de Adão e aumentou o peito.Apesar de os seus superiores inicialmente reagirem, ela continua na força.
O problema está na constituição que não conseguiu acompanhar a passada rápida da mudança social. O que é que os pais da constituição queriam dizer com sucessão,casamento, nação? A grande discussão é hoje em dia sobre semântica.
Zapatero ao ser eleito retirou as tropas do Iraque e legalizou os casamentos homosexuais, conforme prometera. O PP apoiado pelos bispos recorreu para o Tribunal Constitucional, insistindo ser implícito que casamento é entre membros de sexos opostos. O tribunal patina enquanto os alcaides continuam alegremente a casar gays e lésbicas. Se a decisão do tribunal for contrária não se sabe se os casais poderão ser descasados.
A palavra nação está ainda metida num buraco maior. A constituição refere "a unidade indissolúvel da nação espanhola". Parece simples, mas a primeira cláusula do recentemente aprovado estatuto de autonomia da Catalunha declara que "A Catalunha é uma nação".Isto deixou Zapatero às aranhas tentando encontar uma fórmula que o parlamento de Madrid aprove, do género ,a Espanha é uma nação de nações. O PP acha isto um absurdo político, lógico e semântico. Pergunta: poderá haver a bicicleta das bicicletas, a lua das luas? Replica um catalão: Porque não? Não é a Bíblia o livro dos livros e o D. Quixote a novela das novelas?
Nos velhos tempos falar da sucessão,de homosexualidade e de autonomia num bar, podia ser perigoso. Falava-se de toros, dos desaires do futebol e...passa a sangria. A semântica do Generalíssimo ia do Si! ao No! Hoje posso defender a república no bar da aldeia com o meu amigo capitão da Guardia Civil e ele tenta calar-me com um "Viva El Rey! Viva Leonor!".
E Franco? Que apodreça em paz.

Comentários:

Em novembro 18, 2005 2:34 da tarde, Blogger José Aguilar escreveu...

Sempre achei alguma graça ao facto de a Guardia Civil ser conhecida como "La Benemerita", especialmente porque era difícil de decortinar a sua benemerência nos tempos de Franco. Mas... a vingança serve-se fria: ao aceitar mudanças de sexo nas suas fileiras, parece finalmente ganhar jus ao apodo. Esta é, de facto, apenas uma das faces da revolução que se vai operando em Espanha, enquanto nós por cá vamos dicutindo vacas frias.

 

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