Bom dia OC!
Julgo que a melhor forma de recordar esse dia é transcrever o que o Simões Teles escreveu, se não estou em erro no “Tridente”, e que também foi publicado no jornal dos 25 anos do nosso curso, de onde o copiei:
“Às 10:00 do dia 5 de Junho de 1964, 6ª feira, a SAGRES, levantou ferro do QNG. Com uma brisa crescente de SW sussurrando entre a mastreação, rumou barra fora. Ao largo de Cascais aproou-se a N e caçaram-se as primeiras velas. O vento tinha rondado para S.
A linha de largada estava colocada entre o cabo Raso e o aviso «Bartolomeu Dias», uma linha imaginária no sentido E–W. O vento era o pior que poderíamos desejar, dado que a nossa finalidade era demandar as ilhas Canárias, a S, ponto de passagem obrigatória.
As instruções da Regata obrigavam os navios a parar as máquinas 10 minutos antes das 13:30, hora exacta da largada. Atrás de nós começaram a surgir os restantes veleiros, com as velas caçadas já, navegando à popa arrasada. Caçaram-se as restantes velas, sempre com rumo N.
Os momentos que antecederam a largada foram excitantes. A «SAGRES» aproximou-se perigosamente da linha imaginária e corria o risco de largar adiantada. Carregou-se algum pano. Esperam-se uns momentos. E, com uma precisão calculista, já com todo o pano caçado e máquinas paradas há 15 minutos, cortámos a linha de largada momentos depois do tiro da 120 do «Bartolomeu Dias» e a 50 metros deste, o mais a W possível, como convinha. Atrás de nós o «DANNEMARK», a sotavento, depois o «ELCANO» a barlavento. Houvéramos sido os primeiros a largar.
Começava a grande Regata. Confiantes, a ideia da vitória sobrepunha-se de modo evidente a qualquer outra hipótese.
Encostaram-se as vergas a mais não poder; caçaram-se bem todos os latinos. Dispuseram-se as vergas em leque. Navegávamos à trinca, orçados o mais possível; o vento era SSW e o rumo 290.
Uma desilusão surge. O veleiro alemão, «GORCH FOCK», o mais temível adversário, vem na nossa esteira, mais orçado e mais veloz. Passa-nos por barlavento. Continua a orçar mais do que nós. Ao anoitecer o Alemão estava a 4 milhas, na nossa amura de BB. O «CRISTIAN RADICH» marca-se pela alheta do mesmo bordo, mantendo a distância. O «DANNEMARK» arriba e com ele es restantes veleiros. O «ELCANO» perde-se de vista pela popa no nevoeiro e na noite que caem.
O vento refresca. O «GORCH FOCK», perde terreno. O «CRISTIAN RADICH» carrega os altos e desaparece. É noite escura e estamos sozinhos.„
Tenham uma boa semana!
Comentários:
Jota
A tua evocação de um passado que nos enche, desperta sentimentos que raiam a comoção e que não há adjectivos, pelo menos para mim, que os definam.
Bem Hajas.
Um grande abraço.
Com muito meos emoção e alguma falta de respeito interrogo-me se não teríamos desistido da regata no dia de aniversário do "Infelon"
Um abraço
Não te adiantes. Lá chegaremos...
É claro que foi.
Mas como nós sabemos não foi só a Sagres a sentir a "sua" influência.
Dia 29 de Junho de 1964, fazia eu 19 anos. Tens razão "Beiron", foi nesse dia, o que me podem agradecer por poderem ter passado cinco magníficos dias nas Bermudas, em vez de um ou dois se tivéssemos teimado. Um abraço oceânico.
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