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Tal como o Silva Nunes comunicou na onda “MUDANÇA DE BLOGUES”, foi criado um novo blogue, o “Água aberta … no OCeano II” cujo endereço é: http://blogueoc.blogspot.com/.

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quinta-feira, abril 27, 2006

Cadilhe e os submarinos

Para quem não leu ainda a revista “Sábado” de hoje, transcrevo seguidamente e na íntegra, porque vale a pena, o que o Pacheco Pereira escreveu no seu “A lagartixa e o jacaré”:

Passou despercebida uma declaração de Miguel Cadilhe, na semana passada, criticando as despesas feitas com as Forças Armadas (prefiguradas num “submarino”) e dizendo que era melhor que o dinheiro fosse gasto para reformar a administração pública. Passou também despercebido que Cavaco lhe respondeu indirectamente em declarações feitas na viagem à Bósnia.
O que Cadilhe diz é mais uma variante da versão “um avião de guerra = dois hospitais”, e não é apenas ele que o pensa e afirma, estou convicto de que é o que pensa a maioria dos portugueses. Pensa, mas pensa mal, ou pelo menos sem medir as consequências do que diz. Se os mesmos portugueses e Miguel Cadilhe estiverem disponíveis para defender que Portugal não tenha Forças Armadas e faça como a Islândia, que contrata a sua defesa com os EUA, que é uma hipótese que tem as suas vantagens (é mais barato e eficaz), então assumam as suas consequências, em particular, a de não ter voz em nada que diga respeito ao seu “lugar” no mundo. A não ser assim, há que aceitar que as Forças Armadas custam muito dinheiro, com submarinos ou sem eles. Claro que nem sempre este dualismo é assim tão brutal, porque a posição dominante na nossa intelligentsia cínica é a de dizer que seja qual for o dinheiro que se gaste, as nossas Forças Armadas não duram 15 minutos num conflito moderno, nem contra Marrocos, por isso mais vale ter uma guarda-costeira e tropas para “missões de paz” ao serviço da ONU, o que toda a gente acha que se justifica. Este modo de ver também mereceria uma análise por si só quanto aos avatares do nosso nacionalismo mínimo que se fica pela Zona Económica Exclusiva.
De facto não são os submarinos nem os F-16 nem os sistemas de mísseis, as coisas mais caras que as nossas Forças Armadas têm ou querem ter, que fazem a diferença num conflito convencional ou na guerra “histórica” contra os castelhanos que subjaz na mente recôndita de todos os portugueses. Mas já fazem a diferença como instrumento complementar para umas relações externas de presença, de “lugar”, em que também se joga o interesse nacional e, pasmem os cépticos, a defesa nacional. Ter umas Forças Armadas, com um mínimo, insisto mínimo, de operacionalidade, permite-nos ter uma voz em quase tudo menos no Armagedão, mas aí o armamento previsível será termonuclear.
A presença em Timor, na Bósnia, na estrutura de comando e na operacional da OTAN, na formação e apoio aos exércitos dos PALOP, são o programa mínimo para que são necessárias umas Forças Armadas pequenas, modernizadas que possam ser vistas de fora mais como capazes do que como poderosas. E isso, mesmo acentuando-se a pequenez, é muito caro.
As nossas Forças Armadas estão no meio do processo de mudança mais profundo desde o fim da guerra colonial. Podem fazê-lo bem ou mal, mas para o fazerem precisam de coisas tão caras como submarinos, novas armas individuais, formação mais especializada e profissionalizada. É caro, mas pagar-se-ia muito mais caro se lhes faltasse mais uma vez aquilo que na História do século XX faltou várias vezes: em 1918, na Flandres; em 1942, nos Açores; durante a guerra colonial (sim, meus amigos, pode-se ser anticolonialista sem se negar que havia factores, no conflito de 1961-1974, em que estava envolvido o interesse nacional para além do regime); e em 1975, na descolonização. Não basta raciocinar apenas com as finanças públicas, é preciso também pensar com a História.

Comentários:

Em abril 28, 2006 1:59 da manhã, Blogger Manel escreveu...

O Pacheco anda a ler o nosso blog!!!

 

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